quinta-feira, 29 de maio de 2014

Maleficent (?)



Para quem aguardou mais de quatro meses para ver a musa de Hollywood Angelina Jolie encarnar uma das mais célebres vilãs da Disney: Maleficent, ou Malévola, a surpresa, ou para ser mais franca, a decepção, não poderia ser maior. Maleficent começa como a grande protetora da floresta, com suas grandes asas ela voa de um lado para o outro para consertar tudo e proteger todas as criaturas mágicas.
Quem chutou, ao ver que o filme contaria a história de Maleficent, que ela era uma pessoa que amava o pai de Aurora e foi traída por ele (algo que comentei com uma amiga quando os trailers começaram a sair), acertou em cheio.
Maleficent começa com o típico melodrama de duas pessoas de diferentes raças que ficam amigas, então a mais diferente delas se apaixona, eles começam a ter um romance mas as diferenças os afastam e a criatura apaixonada tem um coração partido. Vemos aí a primeira "grande redução" de Maleficent: de uma grande vilã ela é reduzida à uma mulher que, no bom português, "levou um pé na bunda" e começou a odiar a filha do romance de seu amor perdido. No caso de Maleficent a perda é ainda maior, suas fortes e grandes asas lhe são arrancadas e ela em cinco segundos vira de uma fada-sem-asas-capenga em uma feiticeira prodígio.
Chega, então, uma das cenas mais esperadas do filme e que nos trailers fez com que todos os fãs de Maleficent ficarem com a ansiedade e excitação à flor da pele: o batizado. Nesta cena, vemos que houve uma imensa cópia do filme de animação "A Bela Adormecida" onde Malévola debocha sobre o fato de não ter sido convidada e, como prova de não ter se ofendido pelo fato, diz que lançará a maldição. Mas na mesma cena vemos uma mudança fundamental no enredo "original" e que também prova que Maleficent não é movida pela vilania e sim pela dor de cotovelo: ela mesma afirma que só há uma forma de reverter a maldição: com um beijo de amor verdadeiro (ora, não foi um beijo de amor verdadeiro que Stefan falou que iria dar antes de virar-lhe as costas?), as três boas fadas são completamente inúteis logo nesse começo, pois a terceira fada que afinal deveria salvar Aurora da maldição simplesmente não faz nada. As três boas fadas levam Aurora para um esconderijo no meio da
floresta e Maleficent manda seus servos procurarem Aurora, extremamente frustrada e irada pela demora da princesa ser encontrada, certo? ERRADO! Ela acompanha de perto o crescimento da criança, sendo ela e seu servo que fazem a maioria do trabalho que as inúteis fadinhas não conseguem fazer.
Além disso, Maleficent se encontra várias vezes com Aurora, em uma das vezes, surge a filhinha de quatro anos de Jolie com o galã Brad Pitt, Vivienne Jolie-Pitt. Nesta cena mostra a segunda grande redução de Maleficent: Ela é extremamente indecisa e influenciável, cedendo aos encantos da loirinha em todos os momentos, desde a infância de Aurora até sua adolescência. Podemos imaginar que Jolie no mínimo deve ter mexido os pauzinhos para colocar sua filha no filme e, acima disso, ter uma cena especial com ela, algo que não só poderia como provavelmente foi o que aconteceu, mudar todo o curso da história.
Aurora cresce, de fato vira uma moça muito bonita e em uma bela noite ela resolve explorar os arredores e encontra o muro de espinhos feito por Maleficent... em um momento que deve colocar pontos de interrogação na cabeça de todos que assistem, Maleficent a adormece (isso deveria acontecer?) e em seguida acontece uma das cenas mais exploradas no trailer: o encontro entre as duas. Um ponto engraçado que a Disney acertou em cheio e é muito bem demonstrado nesta cena é que em nenhum momento dos trailers foi mostrado que a Maleficent de Jolie seria tudo, menos uma vilã. De fato teve o momento de tensão "Eu não tenho medo", "então apareça", "então você terá medo" mas ele logo se dissolve quando Aurora de repente inventa que Maleficent é sua fada madrinha. Maleficent e fada madrinha na mesma frase como sinônimos é no mínimo um grande absurdo.
Maleficent e Aurora viram companheiras, conversam todas as noites e, como se não bastasse Maleficent não só se arrepende e tenta tirar a maldição de Aurora como ela a convida para viver na bela floresta (os cenários de Maleficent são encantadores e a imagem impecável, o que pode ser explicado pelo fato de ter sido dirigido por  Robert Tromberg que até então só havia trabalhado como técnico de efeitos especiais e desenhista, mas não só de imagem vive o cinema, e a história?) e, quando a maldição estava perto de ser realizada, ela mesma leva Philip para Aurora... afinal de contas qual era o papel das fadas?!
Já chega de mudanças, certo? Você que está lendo não viu nada, as piores começam aqui: Mudando totalmente a história, o beijo de amor verdadeiro que Aurora recebe de Philip não surte efeito (qual é o problema da Disney e seus filmes como Frozen e Maleficent tem com amor verdadeiro? Acho que alguém na equipe levou um fora...) e Maleficent, tomada de pesar e arrependimento, beija Aurora na testa... sim, você leu direito, o beijo de amor verdadeiro que Aurora recebeu foi dado por Maleficent. Logo em seguida Maleficent é encurralada e uma das cenas mais esperadas do filme se torna uma imensa decepção: Maleficent não se torna o dragão, ela transforma seu servo em um dragão. Maleficent está para ser morta então Aurora ouve o som das asas de Maleficent e as libertam e, em um passe de mágica, Maleficent-mulher-gato recupera suas asas e então surgem um momento "Luta final entre Harry e Voldemort" entre ela e Stefan que acaba morrendo, Aurora recebe o trono, unifica os reinos e todos viveram felizes para sempre. Todos, menos os fãs da boa e velha vilã Maleficent.
Se você mesmo depois de ter visto acha que vale a pena gastar dez reais ou mais em uma sessão de cinema para ver a mais nova tentativa da Disney de destruir os vilões e transformá-los em mocinhos, vá em frente, mas se você, assim como eu, ficou inconformado com tudo o que leu (ou assistiu, no meu caso), recomendo que fique com a animação onde Maleficent faz jus ao nome e, naturalmente, faz jus também ao posto de uma das melhores vilãs que a Disney produziu que, infelizmente, a própria Disney fez questão de desmontar.